Como preparar-se para sua aposentadoria

Como preparar-se para sua aposentadoria

Muito antes de pensar em formar diversos tipos de investimento, uma das primeiras coisas que devem ser resolvidas é a aposentadoria. Trata-se de um tema que acaba gerando muitas discussões, ainda mais por conta das mudanças de políticas públicas e da própria relação do brasileiro com o mercado de trabalho.

Por muitos anos, algumas pessoas acreditaram que trabalhar com carteira assinada por um longo período de tempo seria o caminho natural para garantir um bom valor de aposentadoria. O fato é que as coisas mudaram bastante com o passar dos anos: com a população atingindo maior expectativa de vida, as regras para garantir um valor de aposentadoria até o fim da vida se tornaram mais rígidas.

Por exemplo, agora é necessário ter mais de 61 anos e pelo menos 15 anos de contribuição no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), caso queira se aposentar por idade. Em 2022, o mínimo será de 65 anos.

Se por um lado o brasileiro tem deixado cada vez mais de lado a dependência do valor do INSS, por outro ainda existe uma longa jornada para que as pessoas se conscientizem cada vez mais da importância de poupar para a aposentadoria.

Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelou que 78% dos brasileiros admitem ainda não estar preparados para a hora de se aposentar. Ou seja, isso representa mais de 100 milhões de adultos que ainda não se planejaram para a velhice.

Como justificativa, a maioria dos brasileiros comenta sobre o orçamento apertado. Inclusive, o índice de desemprego tem um peso enorme nisso - ainda mais por conta da pandemia de Covid-19, que acabou piorando os índices econômicos do país.

Dos que teriam condições, mas preferem utilizar o dinheiro para outros fins, predomina a priorização de comprar a casa própria (apontado por 56% dos entrevistados), completar os estudos (44%) ou até mesmo comprar um carro (motivo apontado por 27% das pessoas pesquisadas).

Das pessoas que conseguem guardar dinheiro para essa finalidade, o valor médio reservado mensalmente é de R$ 371, ou seja, cerca de um terço do salário mínimo.  

Embora ampliar suas conquistas ou seu patrimônio seja parte importante da vida, é preciso se preparar para a aposentadoria. Afinal, não dá pra depender do INSS, ainda mais em uma época em que o trabalho registrado em CLT passa a se tornar uma realidade cada vez mais distante da maioria dos brasileiros.  

E, mesmo que se tenha parte do INSS compondo sua aposentadoria, ainda assim o valor final deve obedecer a um teto, que pode ser insuficiente para ter uma vida financeira saudável na velhice.

Antes de explicar como proceder para ter uma aposentadoria saudável, vamos explicar os tipos de aposentadoria existentes.

Quais são os tipos de aposentadoria?

O que vem à sua cabeça quando se pensa em aposentadoria? Muito provavelmente em um dinheiro que servirá para os dias de velhice.

Existem muitas formas de investir nesse tipo de renda, mas, quando se fala em aposentadoria relacionada ao trabalho, existem diferentes tipos. Confira:

Aposentadoria por tempo de contribuição

A aposentadoria por tempo de contribuição é a mais comum de todas. Por meio desse sistema, o trabalhador contribui com um valor mensalmente enquanto é registrado e, quando atinge o tempo mínimo de contribuição - que é de 35 anos para homens e 30 anos para mulheres - tem o valor liberado para uso.

Esse benefício deve ser solicitado pelo INSS: o valor é calculado com base na idade mais o tempo de contribuição, após a Reforma da Previdência, que foi aprovada em 2019. Esse é o modelo que forma o sistema de pontuação: com a idade mais o tempo trabalhado, o beneficiário pode conseguir a aposentadoria.  

Seguindo como base o ano de 2021, a pontuação mínima de homens é de 97 pontos, e de mulheres, 87 pontos. Porém, para chegar a essa pontuação, é exigido um mínimo de tempo trabalhado: 35 anos para o caso de homens, e 30 anos para mulheres.

Trata-se de um sistema progressivo, que deve aumentar a cada ano, até atingir 100 pontos para as mulheres (que deve acontecer em 2033) e 105 pontos para os homens (previsto para 2028).

Embora possa ser mais demorado em alguns casos, é com a soma da idade e tempo de contribuição que as pessoas podem chegar ao teto do valor da aposentadoria. Como cálculo, é considerado os 80% dos maiores rendimentos ao longo dos anos e feito uma divisão. Este valor não pode ultrapassar o teto, que é reajustado a cada ano por conta da inflação. Em 2021, o teto da aposentadoria é de R$ 6.433,57 e pode ultrapassar R$ 6.800 no ano seguinte.

Aposentadoria por idade

Nesse tipo de aposentadoria, apenas a idade é tida como base. Isso significa que existe uma idade mínima para dar entrada na aposentadoria: no caso dos homens é 61 anos; já as mulheres, se quiserem, podem dar entrada na aposentadoria aos 56 anos, tendo o ano de 2021 como base.

Essa idade tende a aumentar com o passar dos anos, por conta do sistema de pontuação mínima que foi adotado após a Reforma da Previdência. Ou seja, em 2022, a idade mínima para homens e mulheres sobe um ano. Essas mudanças acontecem por conta do período de transição: a ideia é que a idade mínima seja de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres.

Caso somente a idade seja levada em consideração para a aposentadoria, o valor da aposentadoria fica em 70% do benefício. Por exemplo, se no cálculo da Previdência a sua aposentadoria chegar em torno de R$ 6.000 mensais, aposentando somente por idade você receberia 70% deste valor, ou seja, teria R$ 4.200 como aposentadoria.

Aposentadoria especial

Esse tipo de aposentadoria é voltado para pessoas que exercem atividades em locais insalubres, ou seja, expostos a agentes químicos, físicos e biológicos que podem ser prejudiciais à saúde.  

Para esse tipo de aposentadoria, alguns fatores devem ser observados. Por exemplo, é preciso cumprir alguns requisitos para ter acesso a ela, como:  

  • 25 anos de contribuição nos casos de grau leve;
  • 20 anos de contribuição nos casos de grau moderado;
  • 15 anos de contribuição nos casos de grau grave.

O solicitante deve ter trabalhado pelo menos 180 meses no local. Não é preciso seguir nenhum critério de idade mínima para pedir esse tipo de benefício.

Aposentadoria por invalidez

Esse tipo de aposentadoria é concedida para quem teve alguma incapacidade permanente para exercício do seu trabalho. Para isso, é necessário passar por uma avaliação do INSS e apresentar todos os exames médicos e documentações solicitadas.

Após a Reforma da Previdência, houve uma mudança no cálculo do benefício. Antes, o valor era de 100% do salário de benefício, ou seja, 100% da média das 80% maiores contribuições.

Pela nova lei, o valor é de 60% da média de todas as contribuições mais 2% para cada ano de contribuição que exceder o tempo de 20 anos de contribuição para os homens e 15 anos para mulheres.

Quais são as formas de investir em sua aposentadoria

Agora que você conhece as formas de ter acesso ao benefício da aposentadoria, vamos entrar nos detalhes da forma de contribuição para a sua aposentadoria.

Contribuição no INSS

O INSS é responsável por coletar diretamente da folha de pagamento do trabalhador registrado em carteira um percentual de seu salário que dá direito a uma série de benefícios - incluindo a aposentadoria.

É cobrado 11% sobre o valor do salário, no caso do profissional CLT. Quem é microempreendedor individual (MEI) também contribui diretamente com o INSS ao realizar o pagamento da DAS.

Quem trabalha como autônomo também pode fazer a sua contribuição para o INSS e, assim, juntar o seu valor para a aposentadoria. Porém, vale lembrar que o INSS não gera juros positivos para o beneficiário, como acontece com alguns produtos financeiros. Nestes casos, vale a pena considerar a previdência privada, por exemplo, ou até mesmo investimentos a longo prazo mais vantajosos.

Previdência privada

A previdência privada é um produto financeiro que pode ser contratado na sua instituição bancária. Trata-se de um investimento a longo prazo, que pode descontar diretamente de sua conta corrente dentro do prazo que você estipular.

É uma aposentadoria que não está ligada ao INSS, mas que pode ser encarada como um reforço para que você tenha à disposição um bom valor quando decidir descansar. Existem dois tipos de previdência privada:

  • PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres): sugerido para quem faz a declaração completa do Imposto de Renda, dando a possibilidade de aumentar o valor de sua restituição anualmente.
  • VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres): voltado para quem faz a declaração simplificada ou não faz a declaração. A vantagem dele é que, no momento do resgate, o desconto do Imposto de Renda só é feito sobre os rendimentos.

Ao considerar a previdência privada, fique atento às taxas e às condições para seu resgate. Alguns bancos podem oferecer opções mais vantajosas do que outros. Portanto, pesquise bem as opções e avalie com o seu gerente o que mais se encaixa para a sua realidade.

Previdência complementar

As instituições de previdência complementar são os famosos fundos de pensão, comuns em empresas públicas. Algumas delas criam um regime próprio de previdência complementar, que permite ao colaborador contribuir ao longo de sua carreira. Trata-se de um sistema totalmente independente do INSS.

Sua adesão é facultativa ao colaborador. As EFPC, ou os fundos de pensão, administram planos de benefícios de previdência privada para indivíduos que possuam vínculo empregatício ou associativo com empresas, órgãos públicos, sindicatos e/ou associações representativas. Já as entidades do segmento aberto (EAPC) oferecem, em sua maioria, planos de previdência privada acessíveis a quaisquer pessoas físicas.

Como se organizar para uma aposentadoria tranquila

Agora que você já conhece as formas de dar entrada na aposentadoria e até mesmo investir para uma velhice mais tranquila, vamos dar algumas dicas valiosas para você se preparar e ter um valor ainda maior, sem ter que depender do INSS ou de sua contribuição mensal em algum sistema complementar.

Decida com quantos anos pretende se aposentar

Quem pretende planejar a aposentadoria não precisa depender das regras do INSS. Com um bom planejamento financeiro, é possível conquistar a sua aposentadoria de forma independente e, dependendo da sua contribuição com o trabalho, ter o benefício como um adicional para o seu conforto.

A primeira coisa é fazer um levantamento e descobrir com quantos anos você deseja se aposentar. Leve em consideração diversos fatores, como sua profissão, desejos de vida (por exemplo, se quer aproveitar viajando, saiba que é preciso ter um bom dinheiro disponível para realizar esse sonho), entre múltiplas variáveis.

A partir disso, você já pode começar a pegar a calculadora e estimar o quanto precisaria para ter uma vida confortável.

Faça uma estimativa de quanto você precisa para se aposentar

A melhor forma de fazer esse cálculo é ter como base o que você realmente precisa para viver: gastos com aluguel, carro, contas em dia, alimentação, plano de saúde, entre outros.

Claro que, no futuro, o dinheiro pode ou não desvalorizar. Leve em consideração a média do ano atual, para ter pelo menos uma ideia. Caso não se sinta seguro, jogue sempre o valor das contas para cima, a fim de ter uma visão mais realista do valor que precisaria para ter uma vida confortável.  

Se você decidir se aposentar aos 60 anos, por exemplo, e estima viver pelo menos 25 anos de sua aposentadoria, com o valor necessário para a sua aposentadoria você já consegue ter uma ideia de quanto precisaria guardar.

Digamos que, em seus cálculos, você identificou que o ideal seria ter pelo menos R$ 5 mil mensais - sem levar em consideração o benefício do INSS, por exemplo.

Para que você consiga ter o valor ideal para se aposentar, considerando esse período, você precisaria de R$ 1,5 milhão. Aí, para chegar a este valor, o cálculo a ser feito é: quanto por mês deveria guardar para chegar a tudo isso?

Se você tiver 30 anos, por exemplo, sabe que precisaria de pelo menos mais 30 anos guardando dinheiro para essa finalidade. Então, você pode calcular o total de R$ 1,5 milhão pela quantidade de meses que você teria de força de trabalho até a aposentadoria - que daria em torno de R$ 4 mil mensais. É um valor muito elevado, claro, que não leva em conta os juros de ter dinheiro guardado, inflação e demais variáveis da economia.  

Muito provavelmente uma contribuição mensal menor chegaria ao valor estipulado, mas é preciso entender como aplicar o seu dinheiro e chegar a algo próximo disso. O tipo de investimento pode ser determinante nesse sentido.

Comece a juntar dinheiro

Para ter uma boa aposentadoria, você deve manter uma boa saúde financeira. Reserve o percentual dos seus rendimentos para essa finalidade, sempre considerando seu status atual. Caso o valor que guardar por mês for insuficiente, considere ter uma renda extra.

O ideal é se preparar com antecedência, para que tenha uma boa folga até a hora de se aposentar. Se o valor que guardar estiver muito distante de sua estimativa, reveja seus cálculos e aplique em bons investimentos (que iremos detalhar a seguir).

Não esqueça da reserva de emergência

A aposentadoria é um tipo de investimento essencial, mas não podemos esquecer de formar caixa para a reserva de emergência.

Trata-se de um valor que deve ser utilizado para situações extremas, como perda de emprego ou problemas graves de saúde, por exemplo.

A reserva de emergência geralmente consiste em até seis vezes os seus rendimentos mensais e deve ser mantida em uma conta de fácil resgate - de preferência, que tenha rendimento acima de 100% do CDI.

Mantenha o valor da reserva de emergência à parte de sua aposentadoria, para que possa ter uma vida financeira mais saudável. E, caso precise utilizar o valor, não se esqueça de repor, sempre considerando seu padrão de vida atual.

Descubra a melhor forma de aplicar este investimento

Para ter um bom valor de aposentadoria, você precisa investir em algum produto financeiro. A seguir, vamos apresentar os tipos de investimento que você pode considerar para ter um bom dinheiro e, assim, garantir um futuro próspero.

Renda fixa

A renda fixa é um tipo de investimento que dá previsibilidade de retorno, principalmente a médio e longo prazo. É um tipo de investimento que se encaixa bem no perfil conservador, que evita tomar riscos ao lidar com o dinheiro.

A própria previdência privada é um tipo de renda fixa, porque dá uma previsão de retorno financeiro em um período estipulado. Entre outras formas de usar a renda fixa a seu favor tem o Tesouro Direto e as letras de crédito. Vale a pena investir em renda fixa quando a taxa de juros está mais elevada: como a maioria deles tem indexação com a taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, quanto maior o índice, maiores são as possibilidades de ganho.

Renda variável

Com a renda variável, a possibilidade de ganhar mais dinheiro aumenta. Porém, existe o risco: é preciso investir em educação financeira e conhecer bem as oscilações do mercado, para conseguir operar com efetividade nesse tipo de produto.

Entre os produtos de renda variável existe o mercado de ações, investimento em fundos imobiliários, dólar e índice futuro ou até mesmo as criptomoedas, que passaram a ser amplamente adotadas por investidores de todo o mundo.

Para isso, invista em educação financeira e acompanhe as notícias e movimentos do mercado, para conseguir bons rendimentos.

Esse tipo de investimento costuma agradar perfis moderados e agressivos de investidores. Muitos deles alocam parte de seus recursos e podem até mesmo perder dinheiro no meio do caminho, por conta da desvalorização de alguns ativos, por exemplo. Por isso, entenda os riscos e veja se faz sentido colocar parte de seu patrimônio na renda variável, a fim de mirar em um valor mais elevado em sua carteira.

Diversificação dos investimentos para a sua aposentadoria

A lição número um dos investidores profissionais é: diversifique sempre a sua carteira.  

No caso da aposentadoria, essa lição também se aplica. Se você quer ter um bom dinheiro para curtir a velhice, precisa fazer com que ele renda bem ao longo dos anos.

Porém, tentar maximizar todo o seu patrimônio pode ser algo extremamente arriscado. Além de não ser recomendado, ficar totalmente exposto às oscilações do mercado financeiro pode gerar um grande baque em seus rendimentos.

Por isso mesmo, vale a pena deixar uma parte do seu patrimônio na renda fixa, que dá previsibilidade de retorno. E somente uma pequena parte na renda variável.

Você pode fazer esses ajustes com o passar do tempo, à medida que adquire mais conhecimentos sobre educação financeira.

Uma boa forma de fazer isso é alocar, inicialmente, cerca de 80% de seu patrimônio ou até mais na renda fixa. Com o valor restante, você pode aplicar em alguns produtos de renda variável menos arriscados, como o mercado de ações, por exemplo. Comece com pouco e acompanhe o mercado financeiro, as notícias e os índices, para entender como ele realmente funciona.

À medida que você investe o seu dinheiro, vai entendendo como funciona - além, claro, de investir em conhecimento, que é extremamente necessário.  

Se sentir mais confiança, pode alocar um valor ainda maior e, de tempos em tempos, guardando para a sua aposentadoria em uma conta dedicada a isso.

Com bastante planejamento e disciplina, é possível conquistar a liberdade financeira para a sua aposentadoria e garantir um futuro próspero.  

Para mais dicas de como organizar melhor o seu dinheiro, confira nossa seção de “Finanças Pessoais” no blog da Embracon.

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