Apesar de pouco falado, as taxas de mercado fazem parte do cotidiano econômico de todos os indivíduos, mesmo que muitas vezes as pessoas não percebam. Elas não estão só no noticiário ou nos relatórios de bancos e corretoras. Estão presentes na prestação do financiamento da casa própria, no rendimento da poupança, na correção do contrato de aluguel e até no preço do pãozinho francês da padaria.
Esses índices são referências que orientam como o dinheiro circula: quanto custa usar o crédito, quanto um investimento rende, qual será o reajuste de determinado contrato e como os preços estão se comportando na economia.
Se quer entender mais sobre as taxas de mercado, neste artigo, vamos entender o que são, por que elas são tão importantes, quais são as mais conhecidas e como impactam diretamente a vida de todos, tanto dos investidores e empresas quanto dos consumidores.
O que são taxas de mercado?
As taxas de mercado são indicadores que servem como referência para operações financeiras. Em outras palavras, funcionam como base de apoio para contratos, investimentos e negociações.
Quando um banco empresta dinheiro a uma empresa, quando uma família financia a casa própria ou quando o governo lança títulos públicos, há sempre uma taxa que determina o custo ou a rentabilidade dessa operação.
Essas taxas são definidas por uma série de fatores, incluindo:
Política monetária do Banco Central, que usa a taxa Selic como principal índice
Negociações entre instituições financeiras, que criam índices como o CDI
Medidas estatísticas de inflação, como o IPCA e o IGP-M
Condições internacionais, que afetam a taxa de câmbio e o fluxo de capitais
Isso significa que as taxas de mercado não são números arbitrários. Cada taxa carrega o modo comportamental da economia em um determinado período.
Por que as taxas de mercado são tão importantes?
De forma geral, sem as taxas de mercado, seria impossível organizar o sistema financeiro.
Elas funcionam como regras de referência para operações de crédito e investimento. Então, imagine se cada banco definisse os juros sem levar em conta um parâmetro comum: o resultado seria uma economia desorganizada, com risco elevado e insegurança para quem empresta e para quem toma dinheiro, concorda?
Por esse motivo, o Banco Central utiliza a taxa básica de juros (Selic) para influenciar o ritmo da economia. Se a inflação está em alta, a elevação da taxa ajuda a conter o consumo e reduzir pressões de preços. Se a economia precisa de estímulo, a queda da taxa facilita o acesso ao crédito e incentiva investimentos.
Na prática, as taxas de mercado trazem previsibilidade e segurança jurídica. Empresas podem decidir se vão expandir, contratar mais funcionários ou adiar projetos de acordo com o custo do crédito. Já os investidores, por sua vez, analisam o retorno real das aplicações comparando taxas de juros e índices de inflação.
Outro ponto a considerar sobre a importância das taxas está no impacto do dia a dia da população. Enquanto um aumento no câmbio eleva o preço da gasolina, uma variação no IGP-M pode encarecer o aluguel e a Selic mais alta pode reduzir as chances de uma família conseguir crédito para comprar sua casa.
No fim, as taxas de mercado importam porque elas precisam fazer sentido para todos.
Conheça as principais taxas de mercado
Listamos as principais taxas de mercado utilizadas no Brasil e explicamos como cada uma funciona. Veja a seguir:
Taxa Selic
A Taxa Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Ela recebe esse nome devido ao Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, nos quais são registradas as operações com títulos públicos federais.
Definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, a Selic é o principal instrumento de política monetária do país. É quase impossível não ter ouvido falar sobre essa taxa, que, basicamente, funciona assim:
Se a inflação está alta, o Banco Central tende a aumentar a Selic para encarecer o crédito e reduzir o consumo.
Se a economia está fraca, a Selic pode ser reduzida para estimular empréstimos e novos investimentos.
Os impactos, como se pode imaginar, são consideráveis:
A Selic fica responsável por determinar quanto os bancos vão cobrar em empréstimos
Serve como referência para todas as aplicações de renda fixa
Afeta o consumo e o investimento das empresas
Observe que, se a Selic sobe de 10% para 13% ao ano, o financiamento imobiliário fica mais caro, o rendimento de aplicações pós-fixadas aumenta e as empresas tendem a adiar seus projetos de expansão.
CDI (Certificado de Depósito Interbancário)
O CDI é outra taxa central para o mercado financeiro. Ele representa o custo de operações de curtíssimo prazo entre bancos. Como essas operações acontecem diariamente, o CDI fica muito próximo da Selic.
Para o investidor, o CDI é muito importante porque muitos produtos financeiros são remunerados de acordo com ele: CDBs, LCIs, LCAs e diversos fundos.
Se um CDB paga 120% do CDI, isso significa que ele rende mais do que a taxa básica do mercado;
Quanto maior for o percentual em relação ao CDI, mais atrativo o investimento tende a ser
O CDI, portanto, é uma das taxas de mercado mais acompanhadas por quem busca rentabilidade na renda fixa.
IPCA
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é o índice oficial da inflação no Brasil. Ele é calculado todos os meses pelo IBGE e mede quanto os preços de produtos e serviços subiram ou caíram no período.
A ideia é simples: o IBGE acompanha uma “cesta de consumo” que representa os gastos de uma família brasileira típica, incluindo alimentação, transporte, habitação, saúde, educação, vestuário, lazer e outros itens.
Todo mês, os pesquisadores verificam os preços desses itens em várias cidades do Brasil. Se os preços aumentaram, o IPCA sobe. Se os preços caíram, o IPCA pode até ficar negativo (o que chamamos de deflação).
O IPCA é importante para o governo porque é a base utilizada para verificar se a inflação está dentro da meta definida pelo Banco Central. Para os contratos, esses são reajustados com base no índice. Para os trabalhadores, muitas negociações trabalhistas usam o IPCA como referência para reajustes, evitando que o poder de compra caia. Para os investidores, por fim, o IPCA é fundamental para saber se a aplicação rendeu mais do que a inflação.
INPC
O INPC também é calculado pelo IBGE, mas foca em famílias com renda de até 5 salários mínimos. É bastante usado em negociações trabalhistas e reajustes salariais. Embora menos comentado que o IPCA, o INPC é uma taxa de mercado muito importante porque reflete a realidade de consumo das camadas de menor renda da população.
O INPC é usado principalmente em reajustes de salários, benefícios e pensões.
Por exemplo, o governo utiliza o INPC como referência para corrigir o salário mínimo todos os anos.
Sindicatos também usam esse índice em negociações trabalhistas, para garantir que os salários acompanhem o aumento do custo de vida.
IGP-M
O IGP-M, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ficou famoso como o "índice do aluguel". Durante anos, foi a principal referência para o reajuste de contratos imobiliários.
Ele é composto por três subíndices:
IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) – 60% de peso.
IPC (Índice de Preços ao Consumidor) – 30% de peso.
INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) – 10% de peso.
Por incluir preços no atacado e na construção civil, o IGP-M tende a oscilar mais do que o IPCA. Em alguns anos, chegou a registrar variações superiores a 20%, o que gerou discussões sobre sua adequação como índice de contratos de aluguel.
Taxa de câmbio
A taxa de câmbio mostra a relação entre o real e outras moedas, como o dólar ou o euro. Ela afeta diretamente:
O preço de produtos importados
O custo de viagens internacionais
O valor de exportações brasileiras
O nível de reservas internacionais do país
Quando há instabilidade política ou econômica, a taxa de câmbio tende a subir, encarecendo produtos importados e pressionando a inflação.
Existem dois tipos de câmbios: câmbio nominal e real. O câmbio nominal é a cotação direta da moeda, enquanto o câmbio real leva em conta a inflação dos dois países. Esse último serve para avaliar de fato o poder de compra de cada moeda.
O valor da moeda é definido principalmente pela lei da oferta e da procura.
Se muitas pessoas ou empresas querem comprar dólares (para viajar, importar produtos ou investir fora), a demanda sobe e, então, o dólar fica mais caro.
Se entram muitos dólares no país (por exportações, investimentos estrangeiros ou turismo), a oferta sobe, e o dólar tende a cair.
É justo e necessário ressaltar que a variação do câmbio não afeta só quem viaja para o exterior. Ela tem reflexo direto em vários aspectos do cotidiano:
Combustíveis: o Brasil importa parte do petróleo e derivados, cotados em dólar. Se o dólar sobe, a gasolina tende a ficar mais cara;
Alimentação: produtos como trigo e milho têm preços definidos no mercado internacional, em dólar. Assim, o pão e o macarrão podem encarecer quando o dólar sobe;
Eletrônicos e tecnologia: celulares, computadores e peças importadas ficam mais caros com a valorização do dólar;
Viagens internacionais: passagens, hospedagem e compras em moeda estrangeira ficam mais pesadas no bolso;
Exportações: por outro lado, quando o dólar sobe, os produtos brasileiros ficam mais competitivos no exterior, beneficiando setores exportadores como agronegócio e mineração.
Taxa de juros real
A taxa de juros real é um indicador usado para entender o custo ou o ganho efetivo de qualquer operação financeira. Em termos simples, ela corresponde à Selic descontada da inflação. Isso significa que não basta olhar somente para a taxa básica de juros definida pelo Banco Central; é preciso considerar também quanto o dinheiro perde valor com a alta dos preços.
Funciona assim: imagine que a Selic esteja em 12% ao ano. À primeira vista, parece um rendimento elevado, especialmente em aplicações de renda fixa, que seguem de perto essa taxa. Porém, se o IPCA (o índice oficial de inflação) estiver em 10% no mesmo período, o ganho real não será de 12%. Na prática, o investidor terá um retorno efetivo de apenas 2%. Esse é o juro real, a diferença entre o que o investimento rende nominalmente e a inflação que corrói parte desse rendimento.
Esse cálculo é importante porque mostra o poder de compra de fato que um investimento proporciona. Se a taxa de juros nominal é alta, mas a inflação também é elevada, o rendimento pode parecer vantajoso no papel, mas, no bolso, o ganho é bem menor. Da mesma forma, em cenários de inflação baixa, mesmo juros nominais modestos podem garantir bons retornos.
Para investidores estrangeiros, a taxa de juros real do Brasil é um dos indicadores mais observados. Isso porque ela revela se vale a pena aplicar em títulos públicos brasileiros em comparação com outros mercados. Quando os juros reais estão altos, o país se torna mais atrativo, já que o retorno líquido, descontando a inflação, é maior do que em outras economias. Esse movimento costuma atrair capital externo, fortalecer o real e influenciar diretamente a taxa de câmbio.
No dia a dia do consumidor, esse indicador também ajuda a entender se o dinheiro aplicado está realmente rendendo ou apenas acompanhando o aumento dos preços. Por exemplo, se alguém investe em uma aplicação que rende 8% ao ano, mas a inflação do período é de 9%, o resultado prático é uma perda de 1% no poder de compra. Ou seja, mesmo com o rendimento no extrato, o dinheiro vale menos no mercado.
Como as taxas de mercado afetam a decisão do consumidor?
Quando falamos de taxas de mercado, é comum imaginar que isso interessa somente a economistas ou investidores. Mas, na real, essas taxas estão no centro de quase todas as decisões financeiras que uma pessoa toma. Comprar uma casa, trocar de carro, usar o cartão de crédito ou até mesmo planejar uma viagem para o exterior: em todos esses casos, a variação da Selic, do câmbio ou da inflação pode mudar completamente o cenário.
Vamos começar pelo sonho da casa própria. O financiamento imobiliário é um dos compromissos de mais longo prazo que uma família assume, e é diretamente influenciado pela taxa Selic. Quando a Selic está alta, os bancos repassam esse custo e os juros cobrados em financiamentos sobem.
Isso significa que as parcelas ficam mais caras e o acesso ao crédito fica mais restrito. Em momentos assim, muitas famílias acabam adiando a compra ou optando por dar uma entrada maior para reduzir o valor financiado.
Já quando a Selic está em queda, os financiamentos se tornam mais acessíveis, e até quem já tem um contrato ativo pode se beneficiar solicitando portabilidade do crédito para outro banco com taxas menores. Outra taxa que aparece nos contratos imobiliários é a TR (Taxa Referencial), que, apesar de hoje ter impacto baixo, continua influenciando financiamentos mais antigos e a rentabilidade da poupança.
No caso da compra de um carro, o raciocínio é bem parecido. O financiamento de veículos segue de perto as oscilações da Selic. Se a taxa básica de juros sobe, o crédito fica mais caro, e o carro financiado pode custar dezenas de milhares de reais a mais no final do contrato.
Aqui também entra em cena a taxa de câmbio. Como a indústria automotiva depende de peças importadas e alguns modelos são totalmente fabricados fora do país, quando o dólar se valoriza, o preço dos carros tende a aumentar. Isso não afeta somente os importados de luxo, mas também os veículos populares, já que muitas peças vêm de fora.
Ou seja, o consumidor paga mais caro tanto na compra quanto na manutenção. Em contrapartida, quando o câmbio está favorável e a Selic em níveis baixos, as concessionárias costumam oferecer financiamentos mais atrativos, com prazos longos e juros menores.
E o cartão de crédito? Esse também é influenciado. Embora os juros do rotativo e do parcelado já sejam altos no Brasil, eles também sobem em sintonia com a Selic. Quando a taxa básica aumenta, manter uma dívida no cartão se torna ainda mais pesado, com juros que podem ultrapassar 300% ao ano.
Diante disso, qualquer atraso se transforma rapidamente em uma bola de neve. Para o consumidor, isso significa que, em períodos de Selic alta, deve-se evitar ao máximo carregar o saldo no cartão e buscar alternativas como o crédito consignado ou empréstimos com garantia, que tendem a ter taxas menores. Por outro lado, quando a Selic cai, há espaço para renegociar dívidas, consolidar débitos em contratos mais baratos e reorganizar o orçamento.
Agora, vamos pensar em algo cotidiano como pagar o aluguel. Muitos contratos ainda usam o IGP-M como indexador e, em anos de disparada desse índice, o valor da locação pode subir muito acima da média dos salários.
Nos últimos anos, houve momentos em que o IGP-M passou de 20% em um ano, tornando o reajuste insustentável para várias famílias. É por isso que cada vez mais proprietários e inquilinos têm optado por indexar contratos ao IPCA, que mede a inflação oficial e tende a ser mais estável. Para o consumidor, entender qual índice está no contrato faz toda a diferença na hora de negociar o reajuste.
Já a taxa de câmbio influencia tanto em sonhos quanto em necessidades básicas. Quem planeja uma viagem internacional sabe que a variação do dólar muda completamente o orçamento. Uma viagem de US$ 2.000, por exemplo, pode custar R$ 9.000 se o câmbio estiver a R$ 4,50, mas subir para R$ 11.000 se o dólar chegar a R$ 5,50.
O impacto, porém, não se limita às viagens. Produtos eletrônicos, alimentos importados e até combustíveis sofrem com a alta da moeda americana, já que boa parte do petróleo e do trigo, consumidos no Brasil, é cotada nessa moeda. Assim, mesmo sem sair do país, o consumidor sente os efeitos da oscilação cambial no bolso.
Agora, fica claro que as taxas de mercado influenciam a vida de todos, e, não só a dos investidores e grandes empresários. Conhecer cada uma delas é o primeiro passo para saber driblá-las. Então, fica a questão: será que é possível fazer isso?
Como driblar as taxas de mercado e sentir menos as oscilações?
Para driblar os impactos dessas taxas de mercado, o segredo está em se planejar e fazer suas escolhas de forma inteligente.
Quem consegue esperar por um momento de Selic mais baixa tende a pagar muito menos em um financiamento. Quem acompanha a inflação e se protege com investimentos indexados ao IPCA garante que o dinheiro não perca tanto valor. Já em relação ao câmbio, o ideal é comprar moeda estrangeira de forma parcelada, para diluir riscos, e, no consumo local, dar preferência a produtos nacionais em períodos de dólar alto.
Além dessas estratégias, existe também a opção de recorrer a alternativas de investimento sem juros, como o consórcio. Diferente de um financiamento, o consórcio não tem juros; o consumidor só paga algumas taxas de administração, que são mais baixas que o juros do mercado.
Essa modalidade pode ser vantajosa para quem planeja comprar um bem de médio ou longo prazo, como um imóvel ou um veículo, sem pressa. É uma forma de se organizar financeiramente, diluindo custos e fugindo dos juros elevados dos financiamentos bancários. Claro, todo o processo exige disciplina, já que a contemplação pode demorar, mas, para muitos, é uma aposta interessante em períodos de Selic alta.
No final, as taxas de mercado são como bússolas que indicam para onde a economia está indo e, consequentemente, como o bolso do consumidor será afetado. Saber como cada uma funciona e, principalmente, como elas se conectam às nossas decisões diárias, dá poder de escolha.
Mais do que decorar nomes e índices, o importante é compreender que comprar um carro, alugar uma casa, usar o cartão de crédito ou até investir para o futuro sempre estará, de alguma forma, sujeito a essas oscilações. E quem conhece essas regras do jogo consegue tomar decisões mais conscientes, reduzir riscos e aproveitar melhor as oportunidades que cada oportunidade oferece.
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