A volta da era de ouro dos consórcios

A volta da era de ouro dos consórcios

Quase 60 anos após ter sido criada, a modalidade se torna atraente para quem quer adquirir bens como carro, casa e máquinas. Volume de crédito superou R$ 123 bilhões até julho.

Herança dos tempos de hiperinflação, quando não se conseguia comprar um videocassete, que dirá um automóvel, os consórcios resistiram bravamente ao longo dos anos. Mesmo após a estabilização da economia. Criada há quase 60 anos durante uma crise da indústria automotiva, a modalidade agora volta a ganhar força após a pandemia. No cenário difícil, recebeu até um novo status de “planejamento financeiro”, com várias campanhas publicitárias tentando reduzir o preconceito com o sistema. E as ações estão dando resultado. Uma prova disso é o salto de 65,1% no valor dos créditos comercializados de janeiro a julho deste ano, atingindo R$ 123,1 bilhões sobre os R$ 74,57 bilhões registrados em igual período de 2020. Em número de novas cotas vendidas o aumento foi de 31,1%, atingindo quase 2 milhões de novas cotas até julho, de acordo com o levantamento feito pela Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) e obtido com exclusividade pela DINHEIRO.

A pesquisa mostrou ainda que no fechamento do sétimo mês de 2021, o sistema de consórcios totalizou 8,04 milhões de consorciados ativos. Esse foi o segundo maior número da sua história e 11,5% acima da marca de julho de 2020, quando esteve em 7,21 milhões. Cerca de R$ 37,38 bilhões foram concedidos em crédito em sete meses do ano, 17,8% a mais do que em igual período de 2020. Esse crescimento pode ser explicado pela mudança do comportamento do consumidor após a pandemia, segundo o presidente executivo da Abac, Paulo Roberto Rossi. “As pessoas estão mais atentas às finanças, reduzindo gastos e fazendo planejamento financeiro, uma das essências do consórcio”, disse. Quando foi criado o sistema era, para muitos, o único meio para se adquirir bens de consumo. Ampliado, hoje pode ser usado para aquisição de casa própria, tratores e até serviços, como viagens, festas de casamento ou um curso de MBA.

Com isso, o que antes era restrito às empresas ligadas a montadoras se espalhou, totalizando 143 administradoras autorizadas pelo Banco Central. E, dessas, 102 são associadas à Abac. Entre os bens mais procurados estão veículos pesados — tratores, caminhões e máquinas agrícola —, segmento que cresceu 84,1%. O setor imobiliário vem em segundo, com aumento de 68,9%, seguido de perto pelos eletroeletrônicos, com 56,3%. Já a procura por veículos leves, que deram origem ao sistema, subiu 27,7%. Por último vem o segmento de motocicletas, 20,4%. A explicação para a alta acentuada pela busca de crédito para equipamentos agrícolas é natural, já que o agronegócio segue puxando a economia, No caso da habitação, há dois fatores: o aumento da Selic (que eleva as taxas de financiamento) e o avanço do home office. Mais pessoas viram no consórcio o caminho para comprar uma casa maior. Segundo Rossi, a possibilidade de poder usar o FGTS nesses casos também ajudou na expansão imobiliária. “Em 2020, nós movimentamos 3,9% do PIB, e isso é tão relevante que está levando os bancos a voltar para esse mercado. O que ajuda a manter lubrificado todos os elos da cadeia produtiva.”

Tendência de alta

O Itaú é um desses bancos que está atento ao movimento do setor por ser uma solução relevante para a aquisição de bens neste momento mais difícil. Por isso, diz ter aperfeiçoado seu produto para oferecer de forma fácil aos clientes, o que inclui a contratação 100% digital pelo app. E o resultado já apareceu. “Só no primeiro semestre de 2021, aumentamos em mais de 160% nossa originação de crédito no segmento, em comparação com o mesmo período do último ano. E isso deve continuar”, disse o diretor de Consórcios e Crédito Imobiliário do Itaú Unibanco, Thales Ferreira Silva. O diretor executivo da Multimarcas Consórcios, Fernando Lamounier, concorda: “Já passamos por diversos governos, diversas moedas e diversas crises. A pandemia foi só mais uma crise que vamos superar”, afirmou.

O desafio agora é apresentar o sistema de consórcio para as novas gerações, que não tinham passado por uma crise intensa. Por isso, os jovens são os alvos e começam a ser “catequizados” com cartilhas e propagandas que explicam o formato e alertam para os cuidados necessários para se evitar riscos. “Com o aumento da taxa Selic, a tendência é que o consórcio continue crescendo, porque os financiamentos ficarão mais caros, o que torna o sistema cada vez mais atrativo”, disse Lamounier.

Fonte: IstoÉ Dinheiro